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7 formas de proteger sua ESC da inadimplência



Inadimplência talvez seja o assunto mais importante para qualquer Empresa Simples de Crédito (ESC) e vamos abordar este tema frequentemente no blog. A inadimplência no Brasil é um problema sério mas existem diversas formas de se proteger de maus pagadores.

Nesta primeira postagem sobre o assunto eu gostaria de mencionar 7 formas de proteger sua ESC de maus pagadores:


1) Análise de crédito baseada em dados - e apenas em dados

Pode ser muito tentador analisar o crédito de um empresário apenas analisando aquilo que aparece na superfície: o tamanho da loja, carro que ele dirige, a casa onde mora, as histórias de sucesso que ele te conta. Mas, tudo isso pode ser apenas fachada: a empresa pode estar quebrando, o carro financiado, a casa com aluguel atrasado. Como se proteger das mentiras? Com o uso de dados.

Procure dados nos bureau de crédito (veja abaixo)

Peça cópia o IRPF dos sócios

Peça comprovação do patrimônio com documentos oficiais

E outras fontes de informações...

Quantos mais dados você tiver, melhor. Se a sua análise for puramente baseada em dados (especialmente, de várias fontes, para garantir que não são falsificados/enviesados) o nível de acurácia da sua análise vai aumentar muito! Ou seja, fuja das opiniões e dos achismos. 


2) Faça análise de crédito com informações providas pelos Bureaus de Crédito

No Brasil, as seguintes empresas fazem análise de crédito: Boa Vista, Serasa, SPC e Quod. 

Para acessar as informações que eles disponibilizam, basta pagar uma o valor pedido (cada uma tem um modelo diferente de precificação), informar o CPF ou CNPJ a ser pesquisado e o tipo de pesquisa. Os relatórios mais completos geralmente contém:

- Score de crédito (pontuação que informa, a partir dos dados conhecidos, se o CPF/CNPJ é bom pagador ou não)

- % de chance do CPF/CNPJ pagar as contas em dia

- Renda estimada (a partir de dados de instituições financeiras)

- Dívidas em aberto (Impostos, contas diversas, cheques, boletos)

- Participações em outras empresas (no caso de CPF) 

- Informações cadastrais (ex. Endereço, telefone, nome da mãe)

- Situação na Receita Federal 

Se o CPF/CNPJ consultado possui dívidas em aberto, mesmo que seja apenas uma, muito cuidado. Este problema já revela dificuldade de cumprir com compromissos financeiros. Se o CPF/CNPJ possui várias dívidas e baixo score, não empreste de forma alguma. 

As ESCs só podem emprestar para Empresas. Porém, toda empresa tem um ou mais sócios. É fundamental investigar o CNPJ da empresa e o CPF dos sócios, pois pessoas mau intencionadas podem usar CNPJs novos (e sem dados relevantes nos bureaus de crédito) como uma "fachada" para esconder problemas com CPF dos sócios. Não existe Empresa boa com sócios e administradores ruins.

Nem sempre os bureaus de crédito possuem todas as informações sobre determinado CNPJ/CPF. Mas isto não impede a análise para fornecer o crédito de outras formas (assunto para outros posts neste blog).


3) Peça Avalistas no contrato e notas promissórias

A ESC pode exigir a assinatura de um ou mais avalistas nos seus contratos. O avalista responde pela dívida caso o contratante falhe com suas obrigações. Mas, alguns cuidados devem ser tomados pela ESC ao aceitar avalistas:

  • Assim como para os sócios da empresa, é importe verificar se o avalista tem capacidade de pagamento, a partir da análise de dados.
  • A esposa(o) de sócio(a) da empresa já responde como devedor solidário (e deve assinar o contrato de empréstimo como tal), e não é considerado como avalista independente.
  • Responsabilidade sobre dívida: verifique com cada avalista se eles possuem completo entendimento sobre o contrato que está sendo assinado e as consequências em caso de inadimplência;


4) Adicione bens em garantia

Se o seu cliente possui carro, imóvel ou outro bem que possa ser colocado em garantia (ex. jóias, relógios), pergunte se ele tem interesse em fazer o empréstimo colocando determinado bem como garantia. Desta forma você reduz bastante o risco da operação e pode oferecer taxas de juros mais baixas.

As ESCs podem fazer o registro de alienação fiduciária nas matrículas dos imóveis e também no Gravame de veículos (consulte o Detran da sua região)


5) Aprove limite de crédito para cada cliente

Digamos que após fazer a análise no bureau de crédito, você está convencido que o cliente é bom pagador e é seguro fazer a operação. Mas até qual limite de crédito? 

Alguns bureaus de crédito (como o Serasa), podem fornecer a informação de Renda estimada com dados do cadastro positivo, mas esta informação nem sempre está disponível. Qual valor então emprestar? 

No caso das empresas que a ESC atende (microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte), é muito comum que exista uma certa "simbiose" entre o CNPJ e o CPF. Ou seja, o que acontece na Empresa afeta diretamente os sócios e vice-versa. Neste caso, eu sugiro que o limite de crédito seja definido a partir a capacidade de pagamento dos sócios, que assinarão o contrato como devedores solidários. E, como uma melhor prática, acredito que não se deve comprometer mais de 30% da renda de qualquer pessoa com obrigações financeiras. 

Porque definir um limite de crédito é importante? Duas razões simples: 1) Porque o cliente, ao pagar parte do empréstimo "libera"mais crédito no futuro, dentro de determinado limite; 2) evita que o cliente se endivide acima da sua capacidade de pagamento.


6) Comprove se o cliente possui patrimônio

Comprovar se o cliente possui patrimônio é importante para validar a sua capacidade de pagamento, caso o contrato não siga o curso esperado. Mesmo que o cliente não tenha colocado bens em garantia no contrato, durante uma execução judicial eles poderão ser usados para pagamento da dívida. 

Mas, todo mundo conhece alguém que parece ser muito rico mas não tem nada de patrimônio: a casa é alugada, o carro é financiado, as viagens parceladas em 12x. E nem sempre é fácil detectar que alguém que você acabou de conhecer, ou o sócio de uma empresa, se comporta desta forma. Por isso, nunca se deixe levar pelas aparências: comprove que o cliente tem o patrimônio que ele diz possuir. 

Para garantir que o cliente possui patrimônio em imóveis, consulte os cartórios para verificar se o cliente possuir imóveis. É possível verificar se o cliente possui imóveis utilizando este site: https://www.registrodeimoveis.org.br/servicos-interno/pesquisa-de-bens

Para verificar a propriedade de carros, exija ver o documento original do carro e verifique se não consta qualquer tipo de restrição, como alienação bancária. 

Outra forma de verificar o patrimônio é pedir a cópia da declaração do Imposto de Renda (pessoa física). Lembre-se de validar se a cópia é válida usando este serviço do Governo Brasileiro: https://www.gov.br/pt-br/servicos/validar-copia


7) Verificar processos na justiça

Você emprestaria dinheiro para empresas/sócios com problemas na justiça (ou que já tiveram problemas graves no passado)? Muitas vezes uma simples busca sobre processos judiciais pode nos entregar informações valiosas sobre o perfil de uma empresa e seus sócios, revelando, por exemplo, problemas na justiça do trabalho, execuções por dívidas e outros problemas. Por isso, inclua no seu processo de análise a consulta a tribunais e/ou https://www.jusbrasil.com.br/ 



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